Esta proteína liga-se seletivamente a um RNA mensageiro, processo facilitado por uma zona da proteína que apresenta uma estrutura chamada quarteto G. Forma um complexo de ribonucleoproteína que se associa com os polirribossomas. Assim se forma o complexo RISC (RNA Induced Silencing Complex, complexo multiproteico responsável pelo silenciamento de mRNAs específicos), sendo a FMRP responsável pela regulação da síntese proteica nas dendrites dos neurónios.
Pensa-se que a FMRP regule negativamente a síntese proteica estimulada pela ativação do recetor de glutamato metabotropico 1 (mGluR1). A SXF resulta então, de uma resposta exagerada da estimulação do mGluR. Uma das consequências primárias da ausência da FMRP parece ser a excessiva internalização do recetor α AMPA (recetor transmembranar ionotrópico do glutamato que medeia a rápida transmissão sináptica no sistema nervoso central), em resposta à estimulação do mGluR1, que conduz a alterações da atividade sináptica.
Baseado na descrição dos mecanismos e vias moleculares envolvidas nos sintomas da Síndrome de X-Frágil, tem-se vindo a tentar desenvolver terapias moleculares, tomando como alvo o mGluR1 ou o recetor AMPA com o objetivo de prevenir alguns sintomas da doença.
Fig 1 - Transmissão sináptica |
Plasticidade
sináptica e aprendizagem
Desta forma e analisando as vias
moleculares envolvidas na síndrome, verifica-se que a ausência da proteína FMRP
vai alterar a plasticidade sináptica e desenvolvimento da aprendizagem e
memória. A ativação dos recetores mGluR1 e a sucessiva internalização de
recetores AMPA e NMDA (recetor ionotrópico de glutamato, localizado nas células
pós-sinápticas) na superfície
das sinapses leva a um aumento da tradução de mRNAs, de forma a estabilizar a
modificação.
Esta ação é contrariada pela atividade
da FMRP, que no caso de indivíduos doentes não se expressa, desta forma a não
atuação deste repressor de translação leva a um aumento da Depressão Sináptica
a Largo Prazo (DLP), essencialmente no hipocampo e cerebelo. A DLP consiste num
conjunto de reações bioquímicas desencadeadas nas dendrites dos neurónios e,
pensa-se que está envolvida na eliminação de sinapses de forma orientada.
Assim, portadores da síndrome
apresentam uma morfologia neuronal característica, apresentado alongamento nas
dendrites devido à incorreta regulação da síntese proteica ao nível dos
neurónios e perda de capacidade sináptica. Uma plasticidade sináptica reduzida,
dificuldade na maturação sináptica e perda de capacidade de aprendizagem e
memória são consequências deste tipo de doença.
Fig 2 - Esquema que evidencia a estimulação dos recetores mGluR e sucessiva internalização dos recetores AMPA e NMDA, na ausência da FMRP. |
Fig 3 - Esquema que evidencia a estimulação dos recetores mGluR e sucessiva internalização dos recetores AMPA e NMDA, na ausência da FMRP. |
Fig 4 - Figura ilustrativa da ativação exagerada dos recetores mGluR nos portadores da SXF e sua morfologia neuronal. |
Inibição
da tradução de mRNA pela FMRP
Como referido anteriormente a FMRP
inibe a tradução de mRNAs e consequentemente diminui a LTD. Pensa-se que esta
regulação negativa esta relacionada com a fosforilação da proteína.
Existem proteínas localizadas nas dendrites
que esperam por um sinal sináptico para a tradução dos respetivos mRNAs.
Devido a estimulação dos recetores
mGLURs, dá-se a ativação da cascata do fosfatidilinositol (PIP2), estimulando
ainda a proteína fosfolipase C, que leva a produção de mensageiros secundários:
-diacilglicerol (DAG);
-inositol-1,4,5-trifosfato (IP3).
O IP3 é responsável pela libertação de
cálcio armazenado no retículo endoplasmático. O cálcio libertado juntamente com
a DAG levam a ativação da Proteína quinase C (PKC), envolvida em vários
processos celulares nomeadamente a expressão génica.
Não existe nenhuma evidência que a PKC
fosforile a FMRP, no entanto pensa-se que esta desencadeia uma cascata
enzimática com imensos intermediários, sinalizando o mRNA de interesse,
permitindo assim a síntese da FMRP.
Pode concluir-se que a FMRP é
responsável pela localização e exportação de mRNA do núcleo e sua tradução no corpo
e dendrites dos neurónios, tal facto não sucede na SXF.
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