O
organismo humano é constituído por milhões de células, unidades microscópicas
que armazenam no seu núcleo a informação genética sob a forma de DNA. Esta
molécula esta agrupada em estruturas denominadas cromossomas, e estas por sim
em genes.
Todas
as células somáticas contêm 46 cromossomas (23 pares), enquanto as células
sexuais (gâmetas) contêm apenas metade, ou seja, 23 cromossomas. A célula
filha, resultante da junção dos gâmetas feminino e masculino num processo
denominado fecundação, tem então informação genética proveniente da mão e do
pai. Em indivíduos do sexo feminino, o par sexual é XX, enquanto no sexo
masculino é XY.
Tratando-se
do síndrome do X frágil, a alteração genética ocorre apenas no cromossoma X,
compreende-se assim que o sexo feminino é o menos afetado, uma vez que a
existência de um outro cromossoma X compensa o defeito no outro. Já no caso de
indivíduos homens, o caso é mais severo, uma vez que não têm forma de apaziguar
a alteração, sendo o outro cromossoma Y. Assim, estes indivíduos passarão a
doença às suas filhas, mas o mesmo não acontece para com os seus filhos.
A alteração molecular
fundamental desta síndrome resulta da amplificação da repetição
dos trinucleotídeos CGG, e sua consequente metilação, localizados na região
transcrita mas não traduzida 5’ do gene FMR1 que se encontra na região Xq27.3
do cromossoma X.
Em condições normais, o gene FMR1
contem entre 6 a 40 repetições do trinucleótido CGG.
O nível de mutação deste gene
caracteriza três diferentes grupos de indivíduos afetados pela síndrome:
-pré-mutados, que apresentam 60
a 200 repetições de CGG (a doença não se manifesta clinicamente);
-completamente mutados ou afetados,
que apresentam mais de 200 repetições de CGG; silenciamento transcricional do
gene, devido a metilação.
-grupo “zona-gray”, menos
estudado, que apresenta valores muito próximos do normal em termos de mutação
(de 40 a 60 repetições de CGG).
A falta de caracterização e
diagnóstico deste último grupo dificulta a identificação, geralmente de
crianças com problemas cognitivos e linguísticos.
Caso não se realize um diagnóstico
apropriado a estes indivíduos poderão ser submetidos a tratamentos inadequados,
agravando o seu estado.
Os pacientes totalmente mutados
apresentam um défice de transcrição de praticamente 100% do gene FMR1, causado
pela expansão das repetições CGG, da região 5’, seguida de metilação das
citosinas.
Esta expansão silencia o gene de forma
irreversível nos pacientes.
Os pacientes pré-mutados apresentam um
aumento no nível de transcrição embora este aumento não se reflita na tradução
destes mRNAs, o que implica que deve haver outro meio de controlo da expressão
para a proteína FMRP.
Quando a mutação é
completa, a proteína FMRP deixa de ser expressa. Esta proteína está presente em
muitos tecidos, principalmente no citoplasma de neurónios, sendo importante
para a conexão sináptica, influenciado a capacidade cognitiva e estando
relacionada com o atraso mental.
Fig 2 - Tipos possíveis de alteração génica |
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